quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Sobre a grandeza da Amizade



ENTRE AMIGOS 


Para que serve um amigo? Para rachar a gasolina, emprestar a prancha, recomendar um disco, dar carona pra festa, passar cola, caminhar no shopping, segurar a barra. Todas as alternativas estão corretas, porém isso não basta para guardar um amigo do lado esquerdo do peito. 

Milan Kundera, escritor tcheco, escreveu em seu último livro, "A Identidade", que a amizade é indispensável para o bom funcionamento da memória e para a integridade do próprio eu. Chama os amigos de testemunhas do passado e diz que eles são nosso espelho, que através deles podemos nos olhar. Vai além: diz que toda amizade é uma aliança contra a adversidade, aliança sem a qual o ser humano ficaria desarmado contra seus inimigos. 

Verdade verdadeira. Amigos recentes custam a perceber essa aliança, não valorizam ainda o que está sendo construído. São amizades não testadas pelo tempo, não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades ou se serão varridos numa chuva de verão. Veremos. 

Um amigo não racha apenas a gasolina: racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. 

Um amigo não empresta apenas a prancha. Empresta o verbo, empresta o ombro, empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. 

Um amigo não recomenda apenas um disco. Recomenda cautela, recomenda um emprego, recomenda um país. 

Um amigo não dá carona apenas pra festa. Te leva pro mundo dele, e topa conhecer o teu. 

Um amigo não passa apenas cola. Passa contigo um aperto, passa junto o réveillon. 

Um amigo não caminha apenas no shopping. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. 

Um amigo não segura a barra, apenas. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão, segura o tranco, o palavrão, segura o elevador. 

Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.

- Martha Medeiros




Soneto do amigo


Enfim, depois de tanto erro passado 
Tantas retaliações, tanto perigo 
Eis que ressurge noutro o velho amigo 
Nunca perdido, sempre reencontrado.


É bom sentá-lo novamente ao lado 
Com olhos que contêm o olhar antigo 
Sempre comigo um pouco atribulado 
E como sempre singular comigo.


Um bicho igual a mim, simples e humano 
Sabendo se mover e comover 
E a disfarçar com o meu próprio engano.


O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

- Vinícius de Morais







Amigo


1. 
Amigo, toma para ti o que quiseres, 
passeia o teu olhar pelos meus recantos, 
e se assim o desejas, dou-te a alma inteira, 
com suas brancas avenidas e canções. 

2. 
Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este inútil e velho desejo de vencer. 

Bebe do meu cântaro se tens sede. 

Amigo - faz com que na tarde se desvaneça 
este desejo de que todas as roseiras 
me pertençam. 

                               Amigo, 
se tens fome come do meu pão. 

3. 
Tudo, amigo, o fiz para ti. Tudo isto 
que sem olhares verás na minha casa vazia: 
tudo isto que sobe pelo muros direitos 
- como o meu coração - sempre buscando altura. 

Sorris-te - amigo. Que importa! Ninguém sabe 
entregar nas mãos o que se esconde dentro, 
mas eu dou-te a alma, ânfora de suaves néctares, 
e toda eu ta dou... Menos aquela lembrança... 

... Que na minha herdade vazia aquele amor perdido 
é uma rosa branca que se abre em silêncio...

- Pablo Neruda 




A amizade verdadeira requer confiança, desprendimento e altruísmo. Amigo é aquele que gosta da gente do jeito que a gente é, com nossos defeitos e limitações. Ser amigo é simplesmente estar presente, sentir alegria por estar junto, olhar nos olhos, reconhecer a essência e saber que aquela pessoa é a mesma. Amigo entende que a gente não é perfeito, mas que o afeto fala mais alto e sabemos que podemos contar com ele. Através dos amigos é que reconhecemos nossa própria humanidade. Ter um amigo é saber que sempre haverá um ombro disposto a nos acolher.

  

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