sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Quando nossos pais envelhecem




Mais cedo ou mais tarde, percebemos que nossos pais envelheceram. Outro dia conversando com minha esposa, sobre o quanto minha mãe reclamava por estar se sentindo velha, que tinha muitas dores, que tomava muitos remédios e mesmo assim eu não conseguia vê-la dessa forma, ou sequer a imaginava naquela situação, fui posicionado de um modo que comecei a ter uma melhor percepção e passei a agir de uma maneira mais realista com relação a esse processo.

Muitas pessoas, na idade adulta, mantêm laços estreitos com suas famílias de origem, seja por amor, por necessidade ou por um senso de dever e solidariedade. O fato é que os pais envelhecem em uma fase que estamos produtivos e atuantes, precisam de cuidados e atenção, de uma hora para outra pode surgir a responsabilidade da gente se tornar cuidador familiar. Mesmo sem planejamento, com pouco ou nenhum preparo, a vida requer que nos adaptemos a uma nova realidade.

Se tornar cuidador de seus pais pode ser gratificante, mas também é algo que demanda estrutura emocional e pouca gente teve a oportunidade de refletir sobre isso, muito menos se preparar para tudo que essa nova situação requer, incluindo encargos financeiros e disponibilidade de tempo. Um apoio profissional é imprescindível, pois vários conflitos estarão em jogo: o idoso com as suas dificuldades para vivenciar este processo e o adulto que pode se sentir limitado em relação a gestão de sua própria vida, apegado a imagem de uma pessoa que não funciona mais da mesma forma que quando era mais jovem.

Cuidadores familiares se desgastam e atingem com frequência altos níveis de estresse físico e emocional por exigirem de si muito além do que a saúde permite. Isso deve ser evitado, pois quem ajuda, em primeiro lugar deve estar bem e jamais estrapolar os próprios limites. Muitos conteúdos de vida afloram nessa fase e a cabeça precisa estar muito boa para não cair em armadilhas emocionais, uma delas, confundir culpa com gratidão. Devemos atender aos nossos pais e familiares pela consciência que temos de que se hoje somos quem somos é porque doaram muito de si e nunca movidos  por sentimentos de culpa. Isso nos ajudará a manter uma leveza no convívio e a lucidez necessária para evitar que uma situação que já não é fácil se torne ainda mais difícil. 

Para tudo nessa vida há solução. O segredo é tentar não perder o bom humor e manter a cabeça arejada. A velhice pode chegar para todos, o exemplo de como cuidamos de nossos pais servirá para os nossos filhos quando chegar a vez deles lidarem com a nossa. Infelizmente o tempo não é capaz de por si só dissolver uma série de entraves, o ideal é aparar as arestas antes de se atingir a velhice, pois o idoso é por natureza mais rígido. Entender que chegou a hora de nós cuidarmos dele e não mais ele de nós é o primeiro passo, sempre se lembrando que nem por isso ele virou uma criança. Ao pensar neste assunto, me recordo de uma conversa que tive com uma amiga quando elogiei sua dedicação e o compromisso em cuidar de sua mãe extremamente fragilizada pela velhice: "isso não é nada, perto de tudo o que ela fez por nós".



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