segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Cantar é o melhor remédio


No Centro-Dia Pasárgada temos vivenciado a prática do canto diariamente com os idosos e podemos confirmar que se trata de uma eficaz e prazerosa ferramenta terapêutica, diante dos muitos benefícios que proporciona. Num primeiro momento, pensamos como um veículo para estimular a memória. Selecionamos um repertório que pensamos ser do conhecimento de todos, conversamos sobre essas canções, investigamos o significado afetivo das mesmas e sempre nos surpreendemos com as devolutivas. Certo dia, conseguimos nos recordar de letras e melodias inteiras de dezessete cantigas de roda, o que foi surpreendente, uma vez que a grande maioria dos frequentadores do Centro-Dia apresentam déficit nessa área.

Os exercícios respiratórios são realizados individualmente com o objetivo de: promover maior vitalidade através da ampliação da capacidade pulmonar e oxigenação em todos os órgãos do corpo; acelerar o metabolismo através da expansão do músculo diafragma que provoca uma “massagem” nos órgãos internos do abdome; colocar o idoso em contato com seu próprio corpo, sendo que é natural que a velhice o distancie das suas percepções e sensações corporais mais internas. Os exercícios respiratórios também reduzem a ansiedade, acalmam e geram bem estar.

Quando cantamos adentramos o domínio da fala que é racional, planejada (pois elaboramos um texto, aquilo que iremos falar) e da voz, que é emocional e subjetiva (quantas vezes a voz “entrega” o que as palavras tentaram esconder?). Abordar a voz é interferir na própria identidade. “Decifrar a voz é decifrar o homem. Gostar de sua voz corresponde a aceitar o que somos e como nos sentimos. Uma voz paradoxal indica anormalidade.” (BLOCH in FERREIRA, 1998, pg.2). Dessa forma, cada vocalize realizado, cada escala, cada ganho, se reflete em um ponto a mais na autoestima, porque é um elemento estético adquirido e todos nós gostamos de expressar aquilo que é belo e verdadeiro através de nossos corpos.

 As ciências têm explorado as propriedades da música e a tendência atual é observarmos o surgimento de pesquisas utilizando-a em várias áreas do conhecimento. A psicologia cognitiva da música tem servido de base para os mais recentes estudos neurológicos e psicológicos que envolvem música e raciocínio. (ILARI, 2006). A neurologia tem explorado amplamente a música no campo dos tratamentos de reabilitação. O cérebro possui uma capacidade especial para reorganizar-se denominada neuroplasticidade. Através dessa propriedade, ao ser estimulado em seus dois hemisférios pela música, o cérebro é capaz de substituir regiões responsáveis por determinadas funções mentais por outras, com maior prontidão. (LEVITIN, 2010).

Boas notícias não faltam em relação aos benefícios que a música e o canto podem proporcionar àqueles que estão dispostos a desfrutar desse prazer. Desenvolver a voz cantada está longe de ser uma construção complexa que leva anos e anos de estudo, pelo contrário, é algo que já está dentro de nós, pois o canto antecede à própria fala. Trata-se de uma expressão ancestral do ser humano, tal como a dança. Cantar é redescobrir um antigo hábito que está adormecido dentro de cada um de nós, basta estarmos dispostos a resgatar nossas vocalizações e melodias internas, da forma mais natural e espontânea.

O canto é um convite para uma vivência artística. A arte celebra o instante, situa o criador no aqui e agora. F. Nietzsche em Assim Falava Zaratustra, propõe que o estado ideal do ser humano é conectado na potência daquele que está criando e o compara a uma criança que brinca e dança livremente. A experiência de associar o canto à velhice tem sido extremamente positiva. Os idosos têm respondido cada um à sua maneira em termos de vitalidade, prontidão, memória, raciocínio, expressividade, participação, interesse, afetividade, individualidades que vão surgindo a cada dia, através do timbre de cada voz que é único e aquilo que comunicam de forma particular.

Que tal fazer aula de canto? Com a Fonoaudióloga, Cantora, Professora e Mestre em Gerontologia Marcia Degani. (61) 3263- 6716.




Referências Bibliográficas:
Ferreira, L. P. (Org.) Dissertando sobre voz Carapicuíba-SP: Pró-Fono, 1998.
Ilari, S.B. (Org.) Em busca da mente musical Curitiba-PR: Editora UFPR, 2006.
Levitin, J.D. A música no seu cérebro; a ciência de uma obsessão humana Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

Nietzsche, F. Assim falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém Petrópolis – RJ, Vozes, 2008.

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