segunda-feira, 11 de junho de 2018

EU ENVELHECI


Um dia desses uma jovem me perguntou como eu me sentia sobre ser velha. Levei um susto, porque eu não me vejo como uma velha. Ao notar minha reação, a garota ficou embaraçada, mas eu expliquei que era uma pergunta interessante, que pensaria a respeito e depois voltaria a falar com ela. Pensei e concluí: a velhice é um presente. Eu sou agora, provavelmente pela primeira vez na vida, a pessoa que sempre quis ser.
Oh, não meu corpo! Fico incrédula muitas vezes ao me examinar, ver as rugas, a flacidez da pele, os pneus rodeando o meu abdome, através das grossas lentes dos meus óculos, o traseiro rotundo e os seios já caídos. E constantemente examino essa pessoa velha que vive em meu espelho (e que se parece demais com minha mãe), mas não sofro muito com isso.
Não trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, e o carinho de minha família por menos cabelo branco , uma barriga mais lisa ou um bumbum mais durinho.
Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais condescendente comigo mesma, menos crítica das minhas atitudes. Tornei-me amiga de mim mesma. Não fico me censurando se quero comer um bolinho-de-chuva a mais, ou se tenho preguiça de arrumar minha cama, ou se compro um anãozinho de cimento que não necessito, mas que ficou tão lindo no meu jardim. Conquistei o direito de matar minhas vontades, de ser bagunceira, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar paciência no computador até às 4 da manhã e depois só acordar ao meio-dia?
Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos das décadas de 50, 60, 70 e se, de repente, chorar lembrando de alguma paixão daquela época, posso chorar mesmo!
Andarei pela praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulharei nas ondas e darei pulinhos se quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros. Eles, também, se conseguirem, envelhecerão.

Sei que ando esquecendo muita coisa, o que é bom para se poder perdoar. Mas, pensando bem, há muitos fatos na vida que merecem ser esquecidos. E das coisas importantes, eu me recordo freqüentemente. Certo, ao longo dos anos meu coração sofreu muito.
Como não sofrer se você perde um grande amor, ou quando uma criança sofre, ou quando um animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão a força, a compreensão e nos ensinam a compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser forte, apesar de imperfeito.
Sou abençoada por ter vivido o suficiente para ver meu cabelo embranquecer e ainda querer tingi-los a meu bel prazer, e por ter os risos da juventude e da maturidade gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes que seus cabelos pudessem ficar prateados.
Conforme envelhecemos, fica mais fácil ser positivo. E ligar menos para o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. Conquistei o direito de estar errada e não ter que dar explicações. Assim, respondendo à pergunta daquela jovem graciosa, posso afirmar: “Eu gosto de ser velha”. Libertei-me! (Texto de autora desconhecida)

Fonte:http://www.50emais.com.br/eu-envelheci/

quarta-feira, 30 de maio de 2018

MOCHILEIRAS DEPOIS DOS 60: AS MULHERES QUE NA TERCEIRA IDADE FORAM CONHECER O MUNDO



A rotina de Iracema Genecco, de 67 anos, foi cansativa durante a juventude. Ela costumava acumular dois ou três empregos no jornalismo para criar a filha única e ainda fazia horas extras, para aumentar a renda. Logo que conseguiu se aposentar, aos 60 anos, viajou para diversas regiões da Europa. Encantada com a chance de conhecer novos lugares, tornou-se mochileira.
A história de Iracema assemelha-se à de Vera Lúcia Andrade, de 69 anos, e Flora Contin, de 65. Elas passaram a juventude revezando entre os cuidados com a família e o trabalho. Depois de conquistarem a aposentadoria, decidiram fazer mochilões - viagens de baixo custo e com pouco ou nenhum luxo.
Nas bagagens - carregadas em mochilas ou malas -, cada uma delas levava roupas, itens de higiene pessoal e o sonho de viagens que haviam adiado por tantas décadas.
"Entre as boas experiências que guardo das viagens, a maior de todas é a descoberta de que devemos viver o momento presente da melhor forma possível, pois não conhecemos o futuro e o passado nunca será recuperado", diz Iracema, que fez seu primeiro mochilão em 2011.
Iracema, Vera e Flora estão em uma faixa etária cada vez mais numerosa no Brasil. Em 1991, a população brasileira acima dos 60 anos contabilizava 10,7 milhões de pessoas. O número mais do que dobrou 25 anos depois. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), os idosos correspondiam a 29,6 milhões de brasileiros em 2016.
E as mulheres são maioria: são 16,6 milhões delas, contra 13 milhões de homens acima de 60 anos.
Uma pesquisa de novembro passado do Ministério do Turismo mostrou que 31,7% dos idosos consultados tinham a intenção de viajar até maio deste ano.
O ministro do Turismo, Vinicius Lummertz, pontua que o aumento da população idosa tem motivado o setor turístico a fazer adequações. "Temos que trabalhar com políticas públicas específicas e sensibilizar os prestadores de serviços turísticos para a necessidade de estarem cada vez mais preparados para atender esse público de acordo com suas especificidades", explica à BBC Brasil.
Para Iracema, muitos idosos temem conhecer novos lugares por acreditarem que seja impossível viajar depois dos 60. "Se a pessoa tem boa saúde, gosta de caminhar bastante e tem forças para levar a mala, o resto é lucro. É importante fazer um check-up antes, com médicos e dentistas, contratar um seguro de viagem pelo período em que permanecer fora e levar medicação necessária. Tomando esses cuidados, fica tudo bem."

Fonte:https://g1.globo.com/mundo/noticia/mochileiras-depois-dos-60-as-mulheres-que-na-terceira-idade-foram-conhecer-o-mundo.ghtml

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A IMPORTÂNCIA DA SOCIALIZAÇÃO NA VELHICE



Por sermos seres sociais, ninguém na verdade, foi feito para ficar sozinho. Tudo o que aprendemos na vida, desde a infância, ocorre intermediado pelo ambiente social. É interagindo com as pessoas que adquirimos todas as habilidades, construímos nossas identidades e conquistamos os espaços na sociedade.

O olhar do outro é um dos fatores determinantes na formação da personalidade. O que sabemos sobre nós, a autoimagem e a autoestima partem do espelho refletido naqueles com quem convivemos e o aprendizado ocorre, principalmente, através da imitação. 

Na vida desempenhamos diversos papéis. Em cada grupo que participamos exercemos funções diferentes, assumimos diversas posturas e desenvolvemos várias faces da nossa personalidade. Na família, no trabalho, com os amigos, na vida espiritual, em todas as atividades do dia a dia. Dessa forma, surgem os referenciais que norteiam a percepção de quem somos e a que viemos.

Na maturidade é comum e saudável que entremos em conflito com a identidade de jovem que construímos com o passar dos anos. Isso ocorre quando percebemos não mais nos encaixar no papel do jovem e passamos a não apreciar situações, gostos e comportamentos que tínhamos na fase da juventude. Ocorrem transformações no nosso jeito de ser, perceber e interpretar o mundo, os valores e as prioridades mudam, assim como a forma de levar a vida e o surgimento de novos prazeres. 

Após a aposentadoria essas mudanças se evidenciam, grande parte por conta do afastamento do ambiente de trabalho, além de surgir na maioria das pessoas o sentimento de improdutividade, que vai se intensificando com o avançar da idade. Muita gente chega a sentir um vazio existencial que evolui para quadros de depressão, por achar que a vida não promete mais nada de novo, uma vez que se cumpriu a missão de formar os filhos e  realizou-se o percurso profissional almejado. 

O período da velhice não costuma ser fácil para ninguém, contudo é uma fase de muita riqueza, convidando à revisão de diversos paradigmas, que poderá impulsionar um modo de vida diferente e não menos interessante. Lamentar a perda da juventude é o mesmo que contestar os fenômenos da natureza. A velhice pode sim, ser muito bem vivida e aproveitada, sendo que está repleta de potenciais a serem descobertos e explorados. Vale ressaltar que diversos estudos concluíram que a manutenção e o estabelecimento de novos vínculos sociais e afetivos refletem uma melhor qualidade e vida na velhice, além do que, a solidão e a inatividade desencadeiam e contribuem para a evolução de diversos quadros demenciais.

Da mesma forma que o corpo precisa estar ativo para a preservação de suas funções, a mente também necessita exercitar-se e, por que não reconhecer que o contato social e uma boa conversa são excelentes estímulos cognitivos? Um bom papo estimula a memória de tudo aquilo que foi vivenciado ( e o melhor, aciona o emocional que é o componente mais forte da memória), o raciocínio e a compreensão, pois exige a inversão dos papéis e exercita a empatia. O convívio social estimula a descoberta de novos interesses e promove a partilha de diversas formas de saberes. É conversando que a gente se entende. Com os demais e com nós mesmos.


As fotos fazem parte de um projeto que desenvolvo no Condomínio RK, onde moro em Brasília. Uma iniciativa simples, econômica e funcional que melhorou muito a qualidade de vida dos idosos que aqui residem. Maiores informações sobre o projeto e sobre como desenvolvê-lo no seu bairro, entrar em contato através do email marciadegani@yahoo.com.br