domingo, 30 de outubro de 2016

"10 anos a 1000 e 1000 anos a 10"


Nas minhas buscas de conteúdo para o Blog me deparei com uma notícia publicada no site Terra em 2002 narrando a história do idoso Adamastor e um jovem aluno de Letras encarregado de escrever a sua biografia. O título dado à matéria foi o seguinte: "Aluno faz biografia do homem mais idoso do mundo".

"Quando completou 121 anos de idade, Adamastor decidiu convidar um jovem escritor para escrever sua biografia. Interessado na história do homem mais idoso do país, um estudante de Letras ofereceu-se para a tarefa. Na primeira reunião, depois de tomar um café com Adamastor, o rapaz pediu ao velho que relatasse sua vida desde a infância."

A notícia segue contando a história do idoso. Uma história comum, que poderia ser a de qualquer um de nós. Nada havia nos seus relatos de vida que justificasse tamanha longevidade, nenhum feito épico, nenhum fato grandioso ou exemplo de superação. O diferencial de Adamastor era estar vivo aos 121 anos de idade e o seu desejo de registrar sua passagem pelo mundo. Segue trechos nos quais ele conta ao jovem como foi a sua vida:

"Adamastor contou como foi sua criação numa chácara do interior do estado. Seu pai era um pequeno agricultor que cultivava morangas e domava cavalos.  Quando não estava no colégio ou na missa, Adamastor comprava gibis e, depois de lê-los, trocava com os amigos, com quem também andava de bicicleta diariamente. Aos 15 anos, mudou-se para a capital e morou na casa de um amigo de seu pai até formar-se no segundo grau. Precisando de dinheiro, pegou um emprego como entregador. Conheceu Laura na faculdade e, depois de um ano e meio de namoro, tiveram uma filha. Adamastor se casou com Laura duas semanas após a formatura. (...) Adamastor nunca parou de andar de moto. Era seu hobby preferido. (...) Com o passar dos anos, a filha de Adamastor, que se chamava Luciana, cresceu, formou-se em Relações Públicas e mudou com o namorado para Minas Gerais, onde administra uma pousada em uma das chapadas da região. Adamastor trabalhou como diretor da empresa de entregas e transportes até se aposentar. Aos quarenta anos teve um câncer de pele, mas tratou-se cedo e ficou tudo bem. Vendeu o apartamento e foi morar com Laura numa casa da zona sul, mais sossegada. Durante os cinquenta anos seguintes, aproveitou para dormir bastante, ler livros como "Guerra e Paz" e "Grande Sertão: Veredas", e fazer algumas pequenas viagens para destinos como as Missões e Buenos Aires. Laura morreu dormindo aos 70 anos de idade, e desde então Adamastor simplesmente ia levando a vida, passeando no sol da manhã e mantendo relações sociais com os vizinhos. Não tinha nenhum segredo para sua longevidade. Talvez fosse o café. Ou quem sabe os três cigarros Marlboro que fumava por dia."

Neste momento, a notícia segue narrando que após meia dúzia de entrevistas, o estudante de Letras ao ouvir as gravações e ler suas anotações concluiu que não havia nada de relevante nos relatos de Adamastor. Ligou para ele e disse não ter encontrado um fato sequer de sua centenária existência que merecesse um parágrafo de uma biografia.

"Adamastor ficou muito amargurado com as palavras do jovem e foi até a garagem chorar diante de sua velha Yamaha, de modelo ultrapassado, mas impecavelmente conservada, com lataria reluzente e óleo pingando nas correias. Tinha vontade de ligar a máquina e deslizar os pneus pelas curvas asfaltadas da serra, mas há muitos anos já não tinha forças para pilotar a moto." 

E assim termina a biografia de Adamastor. A matéria então é concluída de uma forma que me impactou profundamente: "o jovem estudante morreu por overdose de drogas quinze dias depois, aos 23 anos..."

Se esta narrativa é verídica ou até que ponto, cabe consultar ao Portal Terra. Para mim serviu como elemento de reflexão. Fiz outras buscas no Google tentando encontrar outras versões dessa mesma história e apenas obtive notícias de idosos que atingiram os 121 anos. Decidi recontá-la aqui no Blog por uma única e simples razão: ficamos preocupados em realizar tantas coisas e construímos nossas vidas imaginando se algum dia serão vistas como algo especial e incomum. A grandeza e a sabedoria de Adamastor foi viver e seguir adiante, sem desejar ser ou parecer uma pessoa extraordinária. Me emocionou ler sobre a possível vida de alguém que passou tanto tempo no mundo, na mais absoluta despretensão e simplicidade, seguindo o curso da natureza, um dia após o outro. Quanto ao jovem, certamente a imaturidade o impediu de enxergar toda a riqueza contida nos relatos do velho. Me lembrei então de uma letra de música que fala sobre "viver 10 anos a mil ou 1000 anos a 10..." 

Fonte:http://noticias.terra.com.br/popular/noticias/0,,OI75296-EI1144,00-Aluno+faz+biografia+do+homem+mais+idoso+do+mundo.html   





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