quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Aos 76 anos, Julieta será mestre pela USP




Aluna mais velha entre 30 mil pós-graduandos da universidade defende nesta sexta sua dissertação

Aos 76 anos, a psicanalista Julieta Widman encerra nesta sexta-feira, 30, um ciclo que teve início em meados de 2010, quando começou a assistir a algumas aulas na Universidade de São Paulo (USP): a aluna mais velha entre os cerca de 30 mil estudantes de pós-graduação da USP defende, na manhã desta sexta, sua dissertação de mestrado. E ela já se prepara para o desafio a seguir - fazer o doutorado.

Estudar é algo que já fazia parte de sua vida ao longo da carreira, mas a queda no número de consultas e a abertura de horas livres em sua agenda serviram de incentivo para que Julieta buscasse novos conhecimentos. Pelo programa Universidade Aberta à Terceira Idade, fez disciplinas nas turmas de Jornalismo e Arquitetura, chegando a pegar quatro disciplinas por semestre.

“Uma das disciplinas era tradutologia. Não sabia o que era e fui”, conta. Foi a ponte para encontros e reencontros com paixões. A primeira com a escritora Clarice Lispector. “Comprei três livros dela e comecei a separar em três colunas (trechos) do original e de duas traduções. Não consegui usar um programa de computador para fazer isso e eu mesma transcrevi. Levei três meses para fazer e foi maravilhoso, porque foi a primeira vez que li Clarice depois de adulta.” A apresentação do trabalho na área de Letras, intitulado A hipótese da retradução pelas modalidades tradutórias nas traduções para a língua inglesa de A Paixão Segundo G.H., será nesta sexta, quando é comemorado o Dia Mundial do Tradutor.

O processo de tradução também já fazia parte de sua vida. Quando ainda atuava somente como psicanalista, ela morou durante dois anos nos Estados Unidos e costumava traduzir artigos. Formada em Psicologia em 1969 também pela USP, Julieta se formou ainda pela Sociedade Brasileira de Psicanálise e viu seu divã se esvaziar com o passar dos anos. “Todo ano, pessoas novas se formam e elas têm os seus pacientes. Quem me encaminhava pacientes eram os pediatras dos meus filhos e amigos do meu marido. Com o tempo, fui para o consultório do meu marido, comecei a atender em casa e, agora, só tenho um paciente.”

O período na universidade trouxe novos amigos. “Foi muito bom o contato com os jovens, foi uma acolhida muito boa. A sala de defesa tem 20 lugares e acho que não vai caber todo mundo. Alguns amigos que não poderão vir já me escreveram para desejar boa sorte.”
Saúde. Ela percorre os corredores e sobe as escadarias da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP com vitalidade, cumprimenta funcionários e colegas com simpatia. Não lhe falta jovialidade ao circular pelo prédio.

“Não sei como seria se não tivesse contato com os jovens. Olho no espelho e tomo um susto. Vejo uma velhinha e não sou eu. Com a minha atividade, me sinto igual aos meus colegas. Eu me sinto jovem, mas tenho experiência.”

Os cuidados com a saúde também ajudam. “Eu como de tudo, mas cuido para não engordar. Não faço academia, mas faço 50 abdominais por dia e alongamento. Também gosto muito de viajar com a minha filha e com o meu marido. A gente pode andar 10 km e eu não sinto dor nenhuma nas pernas.”

Fonte: Estadão

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