quarta-feira, 19 de outubro de 2016

VOVÔ E VOVÓ ONLINE por Marcia Peltier


Vovó usa xale e vovô fica na cadeira de balanço. Opa, nada disso. Apesar de filhos e netos aparecerem mais tarde nos dias de hoje, avôs e avós mudaram em forma e conteúdo – para melhor, porque são mais saudáveis e modernos; para pior, às vezes, porque as famílias são mais dispersas. É hora de conversar sobre o assunto.

Juntos, os jornalistas Elisabete Junqueira e Jorge Luiz de Souza têm cinco filhos e cinco netos. Experientes na maternidade e paternidade e, alcançaram o “grau de avosidade” em 2012. E resolveram espalhar a boa nova.
Abriram um espaço virtual para bater bola sobre as delícias e os dilemas dessa nova relação de parentesco. Nasceu o site Avosidade, Conectando Gerações.

– Depois que virei avó, há quase quatro anos, percebi que não existia nenhum manual de avô. Fiz uma pesquisa nas publicações, mas o mundo vem mudando tão depressa que não achei nada sobre esse papel na nova configuração familiar.

Elisabete, que começou a carreira no departamento de Marketing do Banco Econômico, em Salvador, seguiu por assessorias de imprensa e veículos como Valor Econômico, IstoÉ e Gazeta Mercantil. Criou com Jorge seis canais de informações no site, que trazem desde entrevistas exclusivas gravadas em vídeo, com avôs e avós famosos, até conselhos de especialistas sobre família e sugestão de brincadeiras com netos.

Para  Elisabete, os próprios avós foram marcantes – e seus filhos tiveram laços fortes com seus pais. Mas quando ela se tornou avó, o papel coadjuvante que assumiu foi surpreendente. Era um relacionamento mais distante e com outro tipo de participação.

– Eu fui a 17ª neta; minha mãe foi extremamente presente na vida dos meus filhos mas na minha vez a coisa havia mudado. Hoje os pais tem outro tipo de dinâmica familiar, são muito mais informados e donos do próprio conhecimento, ao contrário do tempo em que o conhecimento era compartilhado. Muitas avós ficam confusas nesse lugar de coadjuvante. Por outro lado, somos avós muito mais ativas.

Antigamente existiam muito mais netos do que avós. E, como a Elisabete, “a nossa geração é a primeira de avós separados”. Famílias diferentes, vivendo em cidades grandes, com maior expectativa de vida e se aposentando cada vez mais tarde. Mas os avós são sempre avós, nos anos 1970, 80, 90, ou 2000.

– O amor dos avós é sempre diferente, mais sereno. Os psicólogos chamam esse círculo de família expandida. A criança que costuma ter desde cedo um contato muito grande com familiares além do pai e da mãe é mais resiliente. A mãe tem obrigações. Já o avô, independente da atividade dele, quando ele está com o neto, está inteiro. É uma relação de entrega, e tenho essa experiência como avó e como neta. É um estagio de privilégio, porque você teve o seu filho, ele cresceu e deu fruto.

A jornalista defende firmemente a importância da presença dos avós na vida do neto em todas as fases da vida. Mas lembra: é preciso entender que o protagonismo da criação continua sendo dos pais.

Vovô e vovó estão online

Quem acha que vô e vó estão por fora das novidades tecnológicas, está enganado. Segundo Elisabete, os avós interagem muito na rede. O grande público do site está entre 35 e 65 anos, mas é comum o feedback de um público ainda mais velho que não quer ficar para trás.

– Estão loucamente na internet, muito mais do que você imagina. Compartilham e mandam para os filhos. E os pais passam para os avós. É outro dado hoje: os avós vão conviver muito mais com os netos do que no passado.

Apesar da convivência, da experiência, e do carinho, Elisabete não acredita numa avosidade indulgente, que passa a mão na cabeça da criança.

– Se uma criança é estimulada a desrespeitar o seu professor na escola, é errado. Os avós, com a concordância dos pais, não podem deixar essa criança se tornar mal educada. Tem que repreender, porque errado é errado de qualquer jeito. É um ato de desamor deixar o erro correr.

Educar significa dar limites e repreender se necessário. Para Elisabete, educação vem de casa e não da escola ou do governo. É uma forma de amor – como ela mesma diz, “nós seremos melhores como sociedade”.


Fonte: http://www.marciapeltier.com.br/vovo-e-vovo-online-novos-rumos-da-avosidade/


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