terça-feira, 25 de outubro de 2016

ESQUECER É TÃO IMPORTANTE QUANTO RECORDAR


Agora há pouco estava pesquisando sobre a Doença de Alzheimer que é conhecida por ser a "doença do esquecimento". Como é uma doença progressiva, a grande preocupação dos médicos e terapeutas é preservar a memória. Neste caso, as células do hipocampo vão morrendo aos poucos e isso se estende para outras áreas do cérebro. Então a pessoa começa a perder a memória recente, ou seja, se esquece que deixou a comida no fogo, que já tomou o seu medicamento, etc, para depois se esquecer de fatos importantes que ocorreram em sua vida, por fim perder habilidades que lhe garantem a sobrevivência e não se lembrar nem do nome dos filhos. Em termos patológicos isso é devastador, pois todo o aprendizado da vida é fundamentado na memória. Mas o que me chamou a atenção nessa pesquisa foi a questão da importância do esquecimento para as mentes saudáveis, sendo que ele é a limpeza que permite a entrada de novas informações e o processamento de novas experiências.

Trabalhos que visam potencializar o aprendizado concluíram que perde-se 50% da informação retida de um dia para o outro de estudo. Com muito treinamento, conseguimos baixar para 30%, o que ainda é muito. Em relação às experiências de vida, armazenamos na memória o que teve envolvimento emocional. Não conseguimos nos lembrar do que fizemos em dias específicos de anos passados, mas nos lembramos, por exemplo, o que estávamos fazendo no dia em que alguém querido faleceu ou quando soubemos que nosso filho passou no Vestibular. É por isso que letras de música e melodias são recordações preservadas em muitos pacientes que têm Alzheimer, mesmo estando em estágio avançado, pois a música é sempre uma expressão de forte apelo emocional. Mas é bem interessante pensar que mais se esquece do que se lembra, e que esse mecanismo é uma coisa linda da natureza.

Pois bem, outro dia ao assistir um programa de TV apareceu o Tarcísio Meira bem jovem que, ao ser perguntado pelo Moacyr Franco, sobre que recordação desagradável ele guarda da sua vivência artística, respondeu brilhantemente: "na minha profissão tenho que decorar milhares de textos. O volume de informação diária que eu tenho que reter é imenso, então da mesma forma que minha memória armazena, ela elimina informações. Isso quer dizer que me esqueço das coisas com muita facilidade, logo não guardo nenhuma memória desgostosa em relação à minha carreira". O que ele disse, é que possui um treinamento natural voltado tanto para a memorização quanto para o esquecimento. E isso faz muito sentido, porque o cérebro precisa de espaço para que o novo entre.

“Nós não seríamos capazes de aprender novos conhecimentos e informações se não esquecêssemos algumas coisas. Precisamos atualizar nossa memória para que possamos lembrar e pensar sobre aspectos que são atualmente relevantes.” 
(Benjamin Storm)

Seria ótimo se conseguíssemos organizar a memória do nosso cérebro do mesmo jeito que organizamos a do nosso computador. Tem gente que já manda tudo para as pastas certas, deletando de cara o que sabe que não vai precisar. Eu já vou jogando tudo pra Área de Trabalho e deixo para depois arrumar os conteúdos, o que dá mais trabalho. Legal é que depois que limpo a Área de Trabalho sempre fico com a sensação de ter arejado a cabeça.

Só que com o nosso cérebro não funciona bem assim e o armazenamento das memórias não é tão voluntário. O trauma é um exemplo disso. Ele é um mecanismo de defesa que ocorre em virtude de uma experiência tão negativa que a mente não conseguiu processar e gerou um bloqueio que é semelhante ao esquecimento. Mas neste caso, a recordação fica lá num nível muito profundo, inconsciente, e essa memória atrapalha bastante a nossa vida, fazendo com que tenhamos comportamentos que não entendemos o por quê. Assim, excluir do nosso cérebro o que não presta não é tão simples, mas é possível. Nem tudo de ruim que vivemos se tornou um trauma, às vezes é uma má lembrança que decidimos nos apegar e não largamos dela de jeito nenhum. Por que isso acontece, eu sinceramente não sei, mas acontece. Vou pedir para algum psicólogo colaborar com nosso Blog elucidando essa questão.

O fato é que o esquecimento é um grande aliado para a manutenção da nossa saúde mental. Estar bem psiquicamente é estar internamente organizado. Quando decidimos arrumar uma gaveta a primeira coisa que fazemos é jogar fora o lixo. Às vezes sai tanto bagulho que a gente até se surpreende com o espaço que sobrou. A gaveta fica livre, fácil, com cada coisa no seu devido lugar e se precisarmos guardar algo novo vai ter lugar de sobra. Jogar fora todo tipo de lixo deveria ser uma disciplina constante. Pra que guardar o que já se sabe que não vai servir pra nada?
 

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