quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Harmonizando a vida: quando a arte ensina






Na música, harmonia indica a concordância ou combinação de vários sons simultâneos ou de acordes que são agradáveis ao ouvido. Significa encontrar quais as notas que tocadas em conjunto enriquecem umas às outras. Não apenas notas, mas também pausas, que são os tempos que deverão ser preenchidos por silêncios. Se observarmos atentamente a dinâmica musical veremos que para o todo fluir, cada parte deverá cumprir o seu papel e que quanto mais integrado cada um dos elementos estiver, melhor será o resultado. Na vida, quando pensamos em harmonia, desejamos organização e funcionalidade. A natureza é harmônica porque cada um dos seus elementos exerce uma função específica que visa a integração do conjunto.  

Quando uma pessoa se decide aprender a tocar um instrumento ou cantar, seu desejo inicial é deleitar-se com o som que irá produzir. Ela então começa a ouvir a si mesma, busca uma sonoridade que lhe agrade, treina para acertar as notas, o ritmo e se empenha para desenhar uma bela melodia. Mas isso tudo parte do exercício da escuta. É através do que se ouve que criamos uma expectativa para aquilo que desejamos produzir. O caminho do músico é muito solitário porque ele dedica horas e horas na busca do autoaperfeiçoamento. Após adquirir um domínio relativo ele começa a tocar em grupo. E o exercício da escuta se expande: ele começará a treinar para ouvir a si mesmo e aos outros simultaneamente. Assim perceberá que espaço deve ocupar no todo, saberá em que momento se destacar e quando deverá diluir-se aos demais. Seu próprio ouvido serve como guia, pois dentro dele já existe a consciência do significado de harmonia. A música mostra que a beleza surge quando a excelência da performance de cada um contribui para o enriquecimento daquilo que se produz juntos.

Na vida ocorre da mesma forma. Primeiro precisamos aprender a nos virar. Nessa fase contamos com os primeiros mestres que são os nossos pais, professores e as pessoas que cuidaram de nós. Eles nos auxiliaram a descobrir nossos próprios potenciais e a utilizá-los da melhor forma possível, deram o exemplo de como fazer, foram nossas primeiras referências, nos apresentaram ao nosso instrumento, nos ensinaram a ouvir, a selecionar o que ouvir e apontaram caminhos para que continuássemos o percurso de desenvolvimento.  Na medida em que crescemos nosso mundo se ampliou e essa interação se estendeu. Passamos então a ser responsáveis por nós mesmos e nos apropriamos do lugar que ocupamos no mundo. Nessa fase é como se passássemos a integrar uma grande orquestra na qual nos submetemos à ordem do todo e damos o nosso melhor atentos ao que nos é solicitado. Através dessa perspectiva passamos a entender que todos são igualmente importantes e que a cada um cabe um papel diferenciado. 

Nem sempre pudemos contar com a orientação ideal ou adequada, pode ser que desde pequenos tivemos que lidar com uma série de entraves e infelizmente nos faltou direcionamento e bons exemplos para nos espelharmos. Quando isso ocorre com um músico, a boa notícia é que ele não está fadado ao fracasso. Através da observação dos colegas é que ele percebe aonde estão as suas próprias falhas e em geral o que ocorre é que ele buscará uma orientação semelhante àquela de quem estaria obtendo melhores resultados que ele. Aí o maior trabalho será ter a disciplina de estudo para corrigir o que não está bom e continuar o seu aperfeiçoamento. Artistas de alta performance sabem que para manter o desempenho é necessário praticar diariamente e que nunca há um momento na vida em que deixamos de aprender.

Independentemente da orientação que recebemos, de certa forma, somos todos autodidatas. Somos nós que descobrimos os caminhos e cabe a nós a manutenção do nosso processo de aprendizagem. E assim nos aperfeiçoamos em busca de uma vida cada vez mais harmônica, tanto interna, como externamente.  


 


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