terça-feira, 1 de novembro de 2016

SOFRER POR ANTECIPAÇÃO: UM MAL DE TODOS NÓS


Se pararmos para pensar, chegaremos à conclusão que a grande maioria das nossas dores e sofrimentos NÃO são decorrentes do nosso momento presente. Ou estamos prorrogando uma dor do passado, ou antecipando alguma desgraça que ainda não aconteceu e pode nem vir a ocorrer.

Todo mundo já leu em alguma postagem de facebook que a depressão é sofrer pelo passado e a ansiedade pelo futuro. Só que isso acontece é no presente. Incrível é o talento que temos para "zoar" com o agora.  A gente vai caminhar num parque lindo e não consegue apreciar a natureza porque a cabeça está cheia, ou vai à uma festa, vê todo mundo dançando e cantando e não consegue sintonizar naquela energia de jeito nenhum pela mesma razão. Meu médico me contou que os consultórios de psiquiatria enchem no período das festas de final de ano com um monte de gente ansiosa e deprimida. As pessoas naquela de fazer o "balanço" do ano, piram de tanto refletir sobre o que passou e temer o que virá.

A capacidade de antecipar a possível ocorrência de eventos é uma conquista evolutiva importantíssima para os seres humanos. Li em um livro chamado "Gramáticas da Criação" de George Steiner, que o homem passou a criar a partir do momento em que começou a raciocinar no modo subjuntivo. Tipo assim: "SE chover, preciso ter aonde me abrigar, SE faltar alimento, preciso ter de onde tirar, SE esfriar, preciso ter como me aquecer". E então ele passou a tomar providências, criando formas para se prevenir das adversidades. De acordo com Steiner, foi isso que garantiu a sobrevivência da nossa espécie. Só que neste caso, a antecipação do problema gerou uma ação que produziu uma solução: "SE chover, eu vou para a caverna, SE esfriar, eu acendo uma fogueira, vou armazenar alimento, porque SE acabar a comida, tenho uma reserva". 

O psiquiatra Augusto Cury, explica que estamos vivendo num mundo que nos obriga a processar um fluxo muito grande de informação num espaço bem curto de tempo e isso tem gerado a "Síndrome do Pensamento Acelerado" que tem contribuído no aumento dos distúrbios relacionados à ansiedade. O que eu particularmente acho difícil, é viver no meio de um monte de gente angustiada e não entrar na mesma frequência. E o pior é isso acontecer com as crianças que absorvem toda a energia dos adultos criando o mesmo padrão, numa fase em que o máximo da angústia deveria ser não ter estudado para a prova.

O momento econômico atual tem gerado um surto de ansiedade nas pessoas. Com 12 milhões de desempregados e o mercado em baixa, é bem difícil que este quadro não tenha nos impactado de alguma forma provocando insegurança em relação a um futuro próximo. Só que o desespero generalizado não ajuda em nada, só atrapalha. Outro dia fui a uma igreja e acredito que como eu, todo mundo estava ali em busca de se fortalecer através da fé para atravessar momentos adversos com alguma paz no coração. Não durei 15 minutos lá, porque a primeira coisa que disseram é que Deus pune quem não cumpre Seus princípios e que um deles é o dízimo. Só que não. Jesus recomenda dar o dízimo, mas não obriga ninguém, muito menos ameaça de infortúnio. Sua função na igreja antiga era sustentar o templo e ajudar as viúvas, os pobres e os enfermos. Aí se meu problema é fazer parte dos 12 milhões de desempregados e ter ficado "pobre de marré de si", o certo seria é que a igreja me ajudasse, né? Pensei: dou conta, não, a crise não só atingiu todo mundo, como tá deixando todo mundo na maior crise... 

O fato é que, é muito difícil não sofrer por antecipação, mas se tivermos uma mínima consciência do por que estamos sofrendo e se há algo a fazer em relação a isso, é possível nos controlar e tentar entrar numa "vibe" melhor. Isso não significa vivermos irresponsavelmente como se não houvesse o dia de amanhã, pois assim estaríamos jogando fora todos os milênios de evolução pelos quais passamos aprendendo a nos proteger e defender. A questão é verificar se neste exato momento há algo que justifique o nosso incômodo e se neste exato momento há o que possa ser feito em termos práticos. Em geral a nossa mente nunca está no momento presente, porque o aqui e agora se caracteriza simplesmente por estamos vivos, respirando e seguindo o curso de nossas vidas. É só no presente que coisas boas podem acontecer, mas precisamos nos esforçar para nos conectar a ele e, para isso, devemos tirar da cabeça o passado e o futuro. No final das contas, o agora é "tranquilo e favorável", o passado não existe mais e não adianta ocupar a mente com o que não pode ser resolvido de imediato. Resumindo: tirando o que tá ruim, só pode estar tudo bem... rs.     

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