domingo, 16 de outubro de 2016

PARA TENTAR LIDAR COM A MÁGOA, A RAIVA E O RESSENTIMENTO



Somos humanos. Não há como escaparmos de sentimentos como a raiva, a mágoa e o ressentimento. Devemos tomar muito cuidado com eles, porque depressão é raiva congelada. Reprimir a raiva por muito tempo, negá-la, pode sim, gerar um quadro depressivo em que a pessoa se sente paralisada diante da vida e com uma tristeza infinita. Importante também é tentar não permitir que a mágoa vire ressentimento. Pessoas ressentidas guardam o rancor para depois descarregarem naquele que o magoou e sentem prazer ao fazer isso, o que é péssimo para ela mesma, pois sentir-se bem agredindo o outro é uma atitude doentia, por mais que se esteja com a razão. Causar sofrimento ao outro não é o que vai resolver o nosso problema e entrar nessa sintonia não é nada bacana.

Muitas situações farão com que nos sintamos ofendidos pela vida a fora, mas será que todas elas justificam o nosso desgaste emocional? Na hora em que o bicho pega, não é fácil, mas o ideal é mantermos o autocontrole e pensar friamente o que significou tal situação. Em alguns casos o agressor pode ter nos ofendido sem querer e estamos vendo pelo em ovo. Em outros, houve sim o intuito de nos magoar e devemos nos perguntar se vale a pena sofrer por aquilo. Quando isso ocorre é porque a pessoa conseguiu nos atingir em algum ponto fraco e se ela perceber que isso aconteceu sentirá que algum poder exerce sobre nós. Cabe a nós decidirmos se vamos permitir que a opinião dela influencie tanto assim as nossas vidas. Quando a ofensa vem de um amigo, familiar ou parceiro a coisa fica dura de engolir mesmo, porque aquela pessoa já possui um significado especial em nossa vida e estamos acostumados a considerar o que ela diz. Nesse momento é muito importante não ser melindroso e se não houve a intenção de ofender, o melhor é relevar. Como já conhecemos aquela pessoa, não fica tão difícil assim perdoá-la pelo deslize. Querer puni-la por algo que já se sabe que não foi intencional é pura vaidade e armadilha do ego. Quando a ofensa é descarada e chegamos à conclusão que houve, sim, a intenção de nos magoar, o negócio é analisar que atitude devemos tomar em relação àquilo e fazer alguma coisa. O que não dá é para ficar represando o sentimento de raiva, porque faz mal e adoece o corpo e o espírito. 

Duas pessoas me ensinaram muito sobre como lidar com esses sentimentos. Uma foi uma amiga que trabalhou lá em casa e a outra uma senhora de 89 anos que foi minha vizinha. Essa amiga, evangélica, dizia simplesmente o seguinte: "não posso matar, posso? Então o jeito é entregar a Deus." E a senhorinha se expressou de uma forma interessantíssima. Uma vez eu, morrendo de raiva fui conversar com ela, que tem uma rotina diária de iniciar o dia praticando meditação. Aí eu disse: "D. Nilza, me ensina a meditar pra ver se eu consigo ficar mais calma?" E ela respondeu: "filhinha, antes de aprender a meditar você tem que aprender a mandar tomar no c*." Enfim, cada um se vira à sua maneira, o importante é não guardar a raiva dentro da gente.

Se tudo o que eu disse não serviu pra nada, segue um texto que me ajudou muito a compreender e lidar com esses sentimentos, que a gente não gostaria de ter, mas tem. Boa leitura! 



(Transcrição do bilhete: "Dona Maria que DEUS li abençoe foi pelos meus filhos que tive que robá sei que não é serto mais só DEUS para mijuga que DEUS ilumine seu caminho." Affe, cada situação...)

Segue o texto que tá grande, mas eu ainda resumi pra vocês. Porque não vale a pena sentir nada disso...

Toda vez que alguém ou algo se choque com o bem-estar de outra pessoa, com o seu prazer, irá imediatamente produzir a chispa da raiva. Esta poderá abrandar-se logo ou atear incêndio. A raiva é a reação emocional imediata à sensação de se estar sendo ameaçado, sendo que esta ameaça possa produzir algum tipo de dano ou prejuízo.

Não há quem já não tenha sido vítima da raiva. Todos os dias nos deparamos com diversas pessoas, no trabalho, no trânsito, nas conversações cotidianas, sendo estas as mais diversas, portadoras dos mais variados estados de ânimo. Não raro, alguma palavra mal empregada, algum tom de voz equivocado, e então nos sentimos ofendidos, tendo a raiva como reação imediata.

Sentir raiva é atitude natural e normal no quadro das experiências terrenas. Canalizá-la bem, elucidando-a até a sua diluição, é característica de ser saudável e lúcido. Mas como impedir que esta sensação inquietante se alastre e não ocupe mais espaços na nossa mente e sentimentos?

O primeiro passo a ser dado é a aceitação de se estar sentindo raiva. Não há motivos para nos envergonharmos da raiva e do fato de senti-la. Camuflá-la perante atitudes de falsa humildade e santificação são atitudes de quem ilude a si próprio, optando pelo parecer em detrimento do ser. Em seguida devemos nos indagar: “ Por que fiquei tão bravo ou brava com a atitude daquela pessoa? Por que me deixei atingir tanto? O que esta pessoa fez de tão desagradável a ponto de conseguir me desequilibrar o restante do dia?” Neste momento inicia-se a racionalização da raiva, e então é que percebemos que nós mesmos tivemos uma participação ativa na sua elaboração. Não foi o outro que produziu raiva em mim, pois somos nós que estamos sentindo raiva, logo nós mesmos a produzimos. Está em nós a sua origem e não no exterior.

Como dissemos, a raiva é uma reação emocional que ocorre toda vez que alguém vai de encontro ao nosso bem-estar, de maneira que nos sentimos ameaçados. O que então nos deixou tão ameaçados? Que área do meu ser aquela palavra proferida pelo ofensor atingiu de maneira tão precisa? Por que aquilo que foi dito significou tanto para nós?

A partir desse momento nós começamos a perceber que na verdade a sensação de inferioridade ou de ofensa não foi produzida pelo outro, ela já existia dentro de nós. A raiva é o lançamento de uma cortina de fumaça sobre nossos próprios defeitos, a fim de que eles não sejam percebidos pelos outros, sendo que quanto maior for o complexo de inferioridade da pessoa, mais vulnerável ela será a tudo o que for direcionado a ela do mundo exterior. Canalizar bem a raiva significa, assim, refletir sobre o porquê de nosso desequilíbrio momentâneo. Da mesma forma, outro recurso deve ser empregado: refletir sobre a origem do ato na outra pessoa.

Isso não significa, de maneira alguma, que devamos ser coniventes com o desrespeito e ironia das pessoas ao nosso redor, as quais agem sem pensar nas conseqüências de seus atos. Mostrar-se ofendido, mostrar-se desgostoso com a situação, demonstrar os sentimentos de contrariedade e até mesmo a raiva inerente à ofensa são reações perfeitamente normais, de quem respeita a si mesmo e se considera credor do respeito e consideração dos seus semelhantes. 

Certamente há situações em que a dor nos atinge sem que possamos nos defender. Ocorrências em que ficamos paralisados, sem saber como agir, tamanha nossa surpresa e decepção. Entretanto, parece que nunca estamos preparados para as decepções. Acreditamos que sempre seremos estimados e considerados por todos, e que as pessoas nunca irão nos trair – e então nos magoamos.

Em nenhum momento devemos nos permitir guardar a mágoa. Quando a mágoa se instala,  o indivíduo vai perdendo aos poucos a alegria de viver, avançando em direção aos estados depressivos – extinguindo-se o prazer pela vida. A mágoa cultivada aloja-se em determinado órgão e o desvitaliza, alterando o funcionamento normal das células. Quando dissimulada e agasalhada nas profundezas da alma, se volta contra o próprio indivíduo, em um processo de autopunição inconsciente. Neste caso, o indivíduo passa a considerar a si próprio culpado pelo ocorrido, e então se pune, a fim de expiar a sua culpa.

Segundo Sigmund Freud, todos nós temos uma certa predisposição orgânica para cedermos à somatização de algum conflito. Esta se dá geralmente em algum órgão específico. Desta forma, muitos de nossos adoecimentos repentinos são fruto do que ele chamou de complacência somática. Nós guardamos a mágoa ou “fazemos de conta” que ela não existe. Como os sentimentos não morrem, eles são drenados no próprio ser, ferindo aquele que lhe deu abrigo.

Mais uma vez, devemos recorrer à racionalização do ocorrido. Refletirmos sobre o desequilíbrio da outra pessoa, sobre sua insensatez e situação infeliz, o que faz com que a mágoa vá perdendo terreno para a compreensão e impedindo que o acontecimento venha a repetir-se continuamente na mente da criatura através do ressentimento.

O ressentimento é o produto direto da repressão da raiva. Não expressamos nossos sentimentos ao ofensor, não lhe demonstramos nosso desapontamento e desgosto e então passamos a guardá-la, a fim de desferi-la no momento oportuno. O ressentimento é fruto de nosso atraso moral. Nós guardamos a dor da ofensa a fim de esperar o momento oportuno da vingança, do revide, a fim de sobrepormos nosso ego ferido em relação ao ego do ofensor. Quando isto acontece, um sentimento de animosidade cresce dentro de nós a cada dia, até que a convivência com a outra pessoa se torne insuportável. Um olhar não suporta mais o outro e a relação cessa por completo. Muitas amizades terminam assim, por falta de diálogo, de sinceridade e humildade em reconhecermos para o outro que ficamos chateados com sua atitude. Casais acumulam memórias de brigas, guardando lembranças de atritos que já ocorreram há meses, sem trocarem sequer uma palavra sobre o assunto, criando um clima silencioso o qual vai tornando o ressentido amargo e infeliz. 

Nós devemos reagir imediatamente ao ressentimento, impedindo o seu desdobramento. Sem dúvida que existem pessoas que se comprazem na calúnia, em proferir ofensas e mentiras sobre toda e qualquer pessoa. Não devemos sintonizar com este tipo de faixa vibratória. Quando optamos por não guardar ressentimentos estamos fazendo um bem a nós mesmos, impedindo a desarmonia e inquietação. 

A causa destes algozes da alma humana, tais como a raiva, a mágoa e o ressentimento, quase sempre é a mesma: a falta de auto-estima da criatura, ou seja, a falta de amor por si mesmo. Quando valorizamos em demasia o olhar de amigos, colegas e familiares, estamos nos apoiando em terreno movediço. Nos tornamos apegados e dependentes. Por outro lado, quanto mais nos descobrimos, quanto mais passamos a desenvolver nossas potencialidades, reconhecendo nossos valores e nossa beleza única, mais seguros nos tornamos, de maneira que a raiva e a mágoa não encontram alicerces para sua instalação. 

Aquele que se ama e valoriza não se magoa facilmente e tampouco fica irado com qualquer palavra descabida de um colega ou amigo. Dessa forma, trabalhar pelo desenvolvimento de nossa autoestima é o melhor antídoto para evitarmos o acúmulo do lixo mental dos ressentimentos e mágoas. Na origem de nossos males – por mais que insistamos em culpar os outros - , sempre está a própria criatura, herdeira de si mesma.



Fonte: http://www.ipepe.com.br/raiva.html       

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