quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Bem mais que vinte e poucos anos...




A ideia de criar esse Blog surgiu como uma necessidade em estabelecer um diálogo com as pessoas que estão passando pelo mesmo momento de vida que eu. Vejo que algumas questões relativas ao envelhecimento são muito pouco discutidas e que o foco conferido a esse assunto acaba sempre recaindo sobre prevenção aos efeitos da velhice. Na nossa idade somos incentivados a nos preocupar em manter a aparência, a produtividade, a disposição, cuidar bem da saúde, questões que são relevantes e pertinentes, mas que acabam de certa forma, contribuindo na construção de uma visão obscura da velhice, porque seguem à ideologia de supervalorização da juventude. Sinto que a maturidade pode ser mais bem aproveitada se evitarmos cair na neurose de querer a todo custo preservar ou resgatar estas características e lutarmos contra a negação da velhice. Acho desnecessário vivermos numa inútil corrida contra o tempo.

Quem, aos quarenta e poucos anos, ou mesmo antes, já não se sentiu ansioso por perceber que o organismo não funciona mais da mesma forma, que a aparência não é mais a mesma, que o mundo não o trata mais do mesmo jeito e acabou se sentindo inferior e impotente diante do inevitável? A gente acompanha a ascensão de profissionais de todas as áreas: artistas, atletas, que estão muito mais próximos da realidade de nossos filhos do que da nossa e se questiona sobre qual o espaço que ocupamos no mundo. Ainda estamos longe da velhice, temos muito o que fazer e este momento que poderia ser vivido com sossego e plenitude, passa a ser angustiante, só porque não nos enquadramos no estereótipo de juventude. Aí gastamos rios de dinheiro para aparentar que não temos a nossa própria idade porque é isso que todo mundo faz e acabamos nos comportando da mesma maneira. 

Tem muita coisa que atrapalha a vida da gente quando assumimos essa ideologia, mas acho que o efeito mais destrutivo é a negação da velhice em nós mesmos, sendo que ela deveria ser aceita com total naturalidade. É cada vez mais doloroso para nós pensar que estamos caminhando para a velhice. Nessa luta para nos incluirmos no time dos jovens, deixamos de planejar o nosso próprio futuro e lidamos com a velhice como se fosse um tabu. Projetamos esse sentimento de inferioridade nos velhos e os tratamos como se fossem muito diferentes de nós, resistimos a todo custo nos colocar no lugar deles, pois estamos morrendo de medo de envelhecer e nem queremos pensar nisso. Não educamos os nossos filhos preparando-os para se relacionarem conosco na velhice, não assumimos um posicionamento político que dê a devida atenção à qualidade de vida do idoso, não nos importamos em proporcionar a eles o tratamento que gostaríamos de ter quando atingirmos a sua idade. Ao negarmos o nosso envelhecimento ignoramos que há muitas sementes a serem plantadas e que devemos fazer isso já, neste exato momento que estamos vivendo. 

Então eu acho que devemos urgentemente rever nossos conceitos sobre envelhecimento e velhice. Precisamos, em primeiro lugar, reconstruir a nossa identidade envelhecente, deixando de nos considerar fruto de uma juventude que se perde a cada dia. Merecemos fazer valer o que aprendemos com a vida e todo o capim que a gente comeu, ainda mais agora, que vivemos o auge da nossa lucidez. Devemos igualmente dar o exemplo de como se deve tratar o velho, porque sabemos que é através do exemplo que se educa e assim contribuir para que nossa própria velhice seja cada vez mais digna. Vamos curtir esse momento da vida sem saudosismo, parar de reclamar que éramos mais lindos e bem dispostos, porque, se pensarmos bem, a nossa juventude não foi todo este céu estrelado. Aprendendo a valorizar agora a nossa maturidade estaremos mais aptos para aceitar e desfrutar de uma velhice que pode até ser bem bacana.   


2 comentários:

  1. Adorei Marcia! Parabéns por mais este artigo!! Bjoss

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    1. Obrigada, Thais, muito legal você estar acompanhando o Blog! Beijão!

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