quinta-feira, 21 de julho de 2016

O que é bonito: a estética da maturidade.




"Bonito é o que persegue o infinito, mas eu não sou..." Somos como a própria vida, que é finita, imperfeita e inacabada. A tomada de consciência da própria finitude marca a forma como concebemos nossa existência nesse mundo. Um dia nossos pais falecem. Aqueles pais que pensávamos que não morreriam nunca. Aí começamos a refletir sobre o que eles fizeram de suas vidas, o legado que deixaram, como eles poderiam ter sido mais felizes e tudo o que aprendemos com eles. E nós? O que estamos fazendo de nossas próprias vidas? O que as pessoas aprenderão através do nosso exemplo? Quanto tempo teremos para fazer as coisas que descobrimos ser realmente importantes para nós? A vida é como uma música que vamos compondo na medida em que a executamos. É uma obra de arte que tem hora pra acabar e nem sabemos em que tempo termina.

Mas o que então é bonito? O que é viver bonito? O que é ser bonito? Quem é bonito? Quando somos jovens o bonito é concreto e aparente. Ao ficarmos mais maduros nossa concepção de beleza passa a ser bem mais abstrata, passa a depender mais de conceitos formados através de reflexões. Viver bonito é ter qualidade de vida. Existir bonito é fazer o bem ao próximo. Aparentar bonito é habitar num corpo saudável, funcional e feliz. Mas e a vida? "É bonita, é bonita e é bonita"? 

Somos o que sobrou dos nossos erros. Os acertos só foram acertos porque erramos até acertar. Estudamos, ensaiamos, repetimos, nos condicionamos, realizamos. Traçamos metas naquilo que pensávamos que fosse o melhor, o correto e mudamos de ideia. Somos processo, estamos em construção, como poetizou o Papa Francisco. Tínhamos certezas que hoje não temos mais. Aprendemos a conviver com as mudanças e descobrimos que a vida está em permanente movimento de transformação. Percebemos a necessidade de adaptação constante, para dar continuidade ao movimento da vida e aí passamos a olhar mais para dentro de nós mesmos. Assim, o outro deixa de ter tanta importância, porque não é a feiura dele que determina a nossa beleza, nem o seu fracasso que garante o nosso sucesso, muito menos a sua tristeza irá balizar o tamanho da nossa alegria.

Não queremos mais gravações, mas sim o grito. Não acreditamos mais em coisas prontas, desejamos viver os processos. Lutamos contra o ontem e o amanhã, queremos o agora porque aprendemos que a vida é feita de agoras. Burrice é sacrificar o agora, então repensamos o significado de problema. Mudamos a concepção que tínhamos do que vem a ser uma pessoa de valor. Redefinimos nossas prioridades, valorizamos o tempo gasto com todas as coisas, desprezamos atitudes que antes valorizávamos, porque descobrimos que o foco delas estava do nosso lado de fora e que a felicidade tem mais que ver com estar bem do lado de dentro. Sabendo que um dia iremos, "mas fica a obra", não nos importamos mais com o que sobra, mas com o que ainda falta em nós.

Agora sabemos que o que antes poderia ser feio e ameaçador, na verdade é o que há de mais bonito: o instável, o desconcertante, o passageiro, o finito. Que a beleza da árvore é produzir flores e frutos. As flores murcham, os frutos apodrecem mas nem por isso deixaram de ser belos porque cumpriram com a sua função. A beleza é o processo em toda a sua inteireza e verdade. "Quero tudo que dá e passa, que se despe, se despede e despedaça."








2 comentários: