Depois de passarmos muito tempo ao lado de outra pessoa,
começamos a achar que os pequenos detalhes são dispensáveis. Não são. Quantos
relacionamentos poderiam ter sido salvos se as bocas continuassem a dizer
frases simples como: “ei, você está bonita”, ou “você é importante pra mim”.
Todo relacionamento, assim como uma casa, precisa de manutenções regulares. E
manter, nesse caso, nada mais é do que ser capaz de dizer e também ouvir coisas
aparentemente desgastadas.
Não é à toa que dizem por aí que a prática leva à perfeição.
Ninguém pode ser bom de fato em algo sem se dedicar àquilo de corpo e alma. O
casal que não prima pela repetição, erra. Erra feio, erra rude. A busca
incessante pelo novo, o anseio incontrolável por novidade muitas vezes nos leva
ao total esquecimento daquilo que é essencial. A saudação de bom dia, o
agradecimento, o elogio, as demonstrações de apoio e de afeto fazem parte de um
ritual complexo. Renegar a urgência disso é antecipar a cerimônia de adeus.
Reforças os laços é mais do que ir ao cinema ou ao restaurante juntos. É também
restabelecer o diálogo, o prazer da companhia através da palavra, da conversa
mesmo que banal.
A intimidade se quebra quando não há conversa. Mesmo a
intimidade dos corpos é afetada com a distância verbal. Não há tesão que
resista à degeneração do diálogo. Ainda é e sempre será importante não reprimir
o impulso de falar com o outro sobre o brilho no olhar, sobre o sabor do beijo,
sobre a sensação confortável de uma mão aquecendo a outra numa noite fria na
volta pra casa ou sobre o prazer de dividir o cobertor no sofá em tarde de
chuva.
Por Jocê
Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário