Era uma vez, numa aldeia distante, entre as colinas, um garoto raivoso que não conseguia passar um único dia sem desejar o mal a alguém. A fisionomia do menino destilava ira profunda e, bastasse alguém ter qualquer atitude que o desagradasse, ele se voltava contra essa pessoa em xingamentos e pregava peças, sempre de muito mal gosto. Ele já até era conhecido pelos aldeãos pelas maldades que fazia.
Certo dia, espumando de raiva por causa de um dos meninos da aldeia, após tê-lo ofendido e ameaçado, decidiu construir uma armadilha na qual cavaria um buraco bem fundo e o cobriria com folhas secas, num lugar em que apenas este garoto costumava transitar. Assim ele levaria um tombo imenso e não o desagradaria mais, nem em pensamento.
Para que as folhas secas não caíssem dentro do buraco, decidiu colocar em baixo delas uma velha rede que estava guardada na casa de seu avô. Chegando lá, seu avô perguntou-lhe o que havia ocorrido, por que ele queria aquela rede e por que estava tão irritado. O neto respondeu que faria com ela uma armadilha para alguém que o teria provocado e o deixado com muita raiva.
O velhinho com muita tranquilidade disse a ele: filho, só darei esta rede para você se antes realizar para mim uma tarefa. Você irá comigo até o varal e esvaziará um saco cheio de carvão atirando-os sobre uma camisa que sua avó lavou e colocou para secar. O menino concordou em realizá-la e dirigiu-se com seu avô até o pátio onde ficava o varal. Chegando lá o velhinho disse: já que você está com tanta raiva, dou-lhe este saco bem grande de carvão para que os lance sobre a camisa. Descarregue toda a sua ira enquanto os atirar.
O menino entendeu que seu avô estaria lhe dando toda a razão e que aquela seria uma forma dele demonstrar isso. Havia muito carvão para ser atirado. Então o menino começou a jogá-los um por um e achou a brincadeira muito divertida, ao ver a camisa suja de preto. Após finalizar a tarefa, chamou o velhinho e disse: pronto, acabei. Não há mais um único carvão dentro do saco que não tenha sido atirado sobre a camisa. Já posso pegar a rede?
O avô então lhe respondeu: espere aí que vou buscá-la no celeiro. Minutos depois ele chegou com a rede e um espelho quase do tamanho de seu neto e exclamou: viu como você sujou os panos no varal? Agora olhe bem e veja o quanto você se sujou. E virou o espelho para o menino. O jovem levou o maior susto quando se viu, pois não havia uma única parte de seu corpo que tivesse permanecido limpa.
Seu avô entregou-lhe então a rede e advertiu-lhe: é isso que acontece com as pessoas que alimentam a raiva e articulam o mal. Pensam que estão prejudicando o próximo quando, na verdade, prejudicam muito mais a si mesmas e na maioria das vezes, nem conseguem perceber isso. Sempre que se sentir irado e planejar agir contra alguém, lembre-se que o prejuízo que causará a si mesmo será sempre o maior.
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