Por Teresa Gouvea
Uma saudade vale o preço do amor.
A gente pisca os olhos e começa a correr em quintais que não existem mais,
estranhando como o mundo era grande, apesar de pequeno, precisando de pouca
gente pra ser povoado. Deita no berço, chora, faz hora com o relógio, busca a
criança que ficou lá, brinca no quintal, tendo como destino o banho, a comida
na mesa, o cobertor colorido no berço, o primeiro dia na escola, o susto de ver
como as ruas de nossas casas eram insuficientes para tantas descobertas.
Uma saudade pode valer os abraços
no medo do escuro, o sopro que curava o machucado, o bolo de aniversário, as
histórias contadas antes de dormir. Pode valer o primeiro futebol, a primeira
briga de rua, a bolinha de gude, a pipa construída por quatro mãos e o vento
que favorecia olhos voltados para o colorido no céu.
A saudade pode vir fantasiada de
primeiras juras de amor, planos futuros, beijos, tinta na parede, escolha dos
móveis, pequenas e grandes viagens, abraços na dor, brigas, lágrimas e novos
abraços, sorrisos e a vida repleta de encantamentos.
Uma saudade pode vir na barriga
crescendo, nos sapatinhos, fraldas, mamadeiras e um amor que ultrapassa as
nuvens. Nossas mãos passearão pelo banho, cabelos penteados, tarefas escolares,
chamadas na escola, acampamentos no colchão, filmes e pipoca.
Uma saudade terá cheiro, nome e
rosto, será tocada nas viagens da alma pelas ruas da memória. Amanhecerá de
olhos inchados, pedindo mais, anoitecerá de mãos cheias, devolvendo gratidão,
se esconderá dos lugares vazios, pois sua única exigência será sinalizações que
apontem para a existência do amor. Seus cômodos comportarão pai, mãe, filhos,
avós, amigos, comportará nossa história e a descoberto de chegadas e partidas,
do amor acompanhado da dor, um não existirá sem o outro.
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