No Centro-Dia Pasárgada temos
vivenciado a prática do canto diariamente com os idosos e podemos confirmar que
se trata de uma eficaz e prazerosa ferramenta terapêutica, diante dos muitos
benefícios que proporciona. Num primeiro momento, pensamos como um veículo para
estimular a memória. Selecionamos um repertório que pensamos ser do
conhecimento de todos, conversamos sobre essas canções, investigamos o
significado afetivo das mesmas e sempre nos surpreendemos com as devolutivas.
Certo dia, conseguimos nos recordar de letras e melodias inteiras de dezessete
cantigas de roda, o que foi surpreendente, uma vez que a grande maioria dos
frequentadores do Centro-Dia apresentam déficit nessa área.
Os exercícios respiratórios são
realizados individualmente com o objetivo de: promover maior vitalidade através
da ampliação da capacidade pulmonar e oxigenação em todos os órgãos do corpo;
acelerar o metabolismo através da expansão do músculo diafragma que provoca uma
“massagem” nos órgãos internos do abdome; colocar o idoso em contato com seu
próprio corpo, sendo que é natural que a velhice o distancie das suas percepções
e sensações corporais mais internas. Os exercícios respiratórios também reduzem
a ansiedade, acalmam e geram bem estar.
Quando cantamos adentramos o domínio
da fala que é racional, planejada (pois elaboramos um texto, aquilo que iremos
falar) e da voz, que é emocional e subjetiva (quantas vezes a voz “entrega” o
que as palavras tentaram esconder?). Abordar a voz é interferir na
própria identidade. “Decifrar a voz é decifrar o homem. Gostar de sua voz
corresponde a aceitar o que somos e como nos sentimos. Uma voz paradoxal indica
anormalidade.” (BLOCH in FERREIRA,
1998, pg.2). Dessa forma, cada vocalize realizado, cada escala, cada ganho, se
reflete em um ponto a mais na autoestima, porque é um elemento estético
adquirido e todos nós gostamos de expressar aquilo que é belo e verdadeiro
através de nossos corpos.
As ciências têm explorado as propriedades da
música e a tendência atual é observarmos o surgimento de pesquisas utilizando-a
em várias áreas do conhecimento. A psicologia cognitiva da música tem servido
de base para os mais recentes estudos neurológicos e psicológicos que envolvem
música e raciocínio. (ILARI, 2006). A neurologia tem explorado amplamente a
música no campo dos tratamentos de reabilitação. O cérebro possui uma
capacidade especial para reorganizar-se denominada neuroplasticidade. Através
dessa propriedade, ao ser estimulado em seus dois hemisférios pela música, o
cérebro é capaz de substituir regiões responsáveis por determinadas funções
mentais por outras, com maior prontidão. (LEVITIN, 2010).
Boas notícias não faltam em relação
aos benefícios que a música e o canto podem proporcionar àqueles que estão
dispostos a desfrutar desse prazer. Desenvolver a voz cantada está longe de ser
uma construção complexa que leva anos e anos de estudo, pelo contrário, é algo
que já está dentro de nós, pois o canto antecede à própria fala. Trata-se de
uma expressão ancestral do ser humano, tal como a dança. Cantar é redescobrir um
antigo hábito que está adormecido dentro de cada um de nós, basta estarmos
dispostos a resgatar nossas vocalizações e melodias internas, da forma
mais natural e espontânea.
O canto é um convite para uma
vivência artística. A arte celebra o instante, situa o criador no aqui e agora.
F. Nietzsche em Assim Falava Zaratustra,
propõe que o estado ideal do ser humano é conectado na potência daquele que
está criando e o compara a uma criança que brinca e dança livremente. A
experiência de associar o canto à velhice tem sido extremamente positiva. Os
idosos têm respondido cada um à sua maneira em termos de vitalidade, prontidão,
memória, raciocínio, expressividade, participação, interesse, afetividade,
individualidades que vão surgindo a cada dia, através do timbre de cada voz que
é único e aquilo que comunicam de forma particular.
Que tal fazer aula de canto? Com a Fonoaudióloga, Cantora, Professora e
Mestre em Gerontologia Marcia Degani. (61) 3263- 6716.
Referências Bibliográficas:
Ferreira, L. P. (Org.) Dissertando sobre voz Carapicuíba-SP:
Pró-Fono, 1998.
Ilari, S.B. (Org.) Em busca da mente musical Curitiba-PR:
Editora UFPR, 2006.
Levitin, J.D. A música no seu cérebro; a ciência de uma obsessão humana Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
Nietzsche, F. Assim falava Zaratustra: um livro para todos e para ninguém Petrópolis
– RJ, Vozes, 2008.
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